Sobre design, carreira e ansiedade
Deixo esse post aberto para discussões e trocas.
O período entre 2019/2020 foi, no mínimo, uma época de mudanças na minha vida, em todos os sentidos. Não só por conta da pandemia e tudo mais que aconteceu no mundo, pra mim começou um pouco antes. Antes de tudo, este é um post difícil para mim. Apesar de ter escrito alguns artigos e ter vários não publicados, neste eu toco em pontos como: ansiedade e baixa autoestima.
O contexto da mudança
Basicamente, minha carreira como web designer começou em meados de 2006. De lá para cá, aprendi muito e cheguei num perfil generalista de UX, executando as skills de UX, Dev e Gestão. Nessa trajetória, estive em um mesmo trampo por cinco anos assumindo uma alta carga de trabalho e executando pelo menos três funções simultaneamente. Totalmente desmotivado, eu estava nada realizado com o que fazia e acreditava ser uma fraude, um profissional incapaz e improdutivo. Além de saber que não havia qualquer chance de evolução profissional onde estava. Não havia desafios ou oportunidades na empresa.
Esses problemas relacionados ao trabalho somados a baixa autoestima e ansiedade geraram um desgaste tamanho que minha saúde mental foi afetada. E dar um passo para enxergar e mudar tudo isso não foi fácil.
Mas bem, se aquela situação era tão ruim, para qual cenário eu gostaria de mudar? Comecei a buscar oportunidades em outras empresas da cidade, locais onde poderia aprender mais sobre design e suas vertentes. Verdade seja dita, gosto de ajudar no Dev e estar na coordenação dos processos, com certeza são skills que vou levar para a vida. Mas o que curto mesmo é trabalhar com interfaces e meu desejo era aperfeiçoar minhas skills de designer.
Ainda tateando no mercado, analisei dezenas de vagas, conheci empresas e pessoas. Nesse processo, descobri um novo mundo. Afinal, eu não procurava emprego a um bom tempo. Foi uma experiência no mínimo interessante e cruel.
Pera aí, como assim cruel? Bem, analisei e separei as vagas que mais se encaixavam com a minha busca. Candidatei-me a mais de cinquenta e, para a maioria delas, fiz processos seletivos desgastantes. Em diferentes ocasiões, não recebi feedbacks sobre os resultados. Cheguei a ir para uma entrevista que o responsável do RH me esqueceu no local e me deixou esperando por 2 horas. E ainda houve casos em que o recrutador deletou o e-mail de seleção e não me respondeu mais; isso enquanto o processo ainda estava rolando.
Enfim, um verdadeiro pacote de situações incômodas somada à falta de profissionalismo, ética e educação básica. Algo completamente diferente do mundo paralelo do Linkedin, onde tudo é bonito e funciona. No fim das contas, encarei tudo como “coisas do mercado”, fiquei grato pela experiência e por ter conhecido gente nova e algumas boas empresas da área.
A contratação
Após idas e vindas, algumas entrevistas e várias negativas, aprofundei uma conversa com uma grande agência de marketing digital do Nordeste.
A conversa fluiu e surgiu uma proposta para atuar como UI e DA, o que me colocaria ativamente em projetos novos e interessantes que a agência estava lançando. Ai estava não somente uma oportunidade de emprego, mas também uma chance para estudar e aprender mais sobre design, criação, direção de arte e design visual. Tudo a ver como meus desejos, certo?
Aceitei.
Primeiros momentos
Empresa premiada, pessoas legais e ambiente bom. Tudo ia caminhar bem agora, pensei. Afinal, consegui o que queria.
Só que não foi exatamente assim. Quando completei um mês na agência, veio a pandemia, seguida pelo lockdown e o home office. Aqueles projetos da agência em que eu estava trabalhando foram pausados. Daí a empresa me direcionou de vez para o setor de criação.
Tenho muita experiência com UI design, mas sabia pouco de DA. Então, assumir essa função por completo tendo pouco tempo de agência e durante uma pandemia foi um verdadeiro sufoco.
Nisso, ansiedade piorou e a baixa autoestima também. Fui executando tarefas e entregando jobs no automático, mas a cabeça continuava acelerada e os pensamentos ainda mais negativos. Tanto que pelos próximos seis meses minha mente ficou focada em coisas como:
- Ficar me comparando a outras pessoas da equipe e pensava não ser bom o suficiente. Tudo o que fazia não estava à altura do que agência pedia, mesmo ouvindo feedbacks que me provassem o contrário.
- Pensar 24 horas/dia no trabalho, imaginando o tempo todo que seria demitido. Até cheguei a sonhar com isso por semanas.
Aquilo não era saudável, eu não estava legal. Havia chegado ao limite.
A força do estudo e o início da terapia
Enquanto assumia esse papel de DA na agência, tive muito dificuldade para fazer as peças e campanhas. E usar as técnicas de UI de repente não faziam muito sentido, o esquema era outro. Por isso, dei um tempo do Figma e voltei para o bom e quase esquecido PS. Além disso, tive apoio da equipe e adotei o daily design (algo que pretendo continuar em 2021). Estudei todos os dias e fiz peças relacionadas a área de DA e UI.
O negócio foi hardcore. As primeiras peças não ficaram bacanas, mas continuei, peguei feedbacks e segui adiante. O ano de 2020 foi passando e me dediquei cada mais vez ao estudo aliado à pratica. Depois de 8 meses de trampo e muito estudo, recebi comentários positivos sobre minhas peças e mesmo que eu não enxergasse o progresso aceitei os feedbacks.
Outra mudança veio quando decidi procurar ajuda profissional e fazer terapia. Até então, imaginava que a insegurança e ansiedade eram elementos na minha vida sem possibilidade de melhora. E estava acostumado a sofrer com eles. Sem dúvidas, começar a terapia e estar perto das pessoas que amo, conversando bastante com minha companheira, me ajudou muito a olhar para esse caos interno.
Ao passo que estou agora, percebo a evolução do meu trabalho em DA. Bem como dos aprendizados em outras áreas do design, atendimento, mídia e UI. Também entendi que pedir ajuda é preciso, estar perto de pessoas queridas é fundamental e que posso focar naquilo que está de fato em meu controle (nesse caso, estudar). Vou continuar a terapia, procurar me cuidar mais e apoiar outras pessoas que estão passando por algo parecido. Quem sabe minha experiência possa ajudar de alguma forma.
Peças do começo de 2020 no daily design (preço e copy fictícios):
Peças de post e campanhas feitas no final de 2021 (preço e copy fictícios):
Algumas telas de UI:
Alguns cards de UI:
Alguns LINKS:
APP e-cadeiras
Mesmo sendo difícil, quis escrever sobre essa experiência e compartilhar as peças que fiz nesse período e os sentimentos que me acompanharam. Se minha história puder ajudar você, ficarei feliz. Agradeço a leitura e qualquer coisa tô por aqui: instagram.com/@kurumi.des